Foto: Reprodução/A Tarde |
Os neoprofetas
do apocalipse avisaram ano passado que 2015 seria tenebroso. E, para enfrentar
a crise econômica, remédios amargos precisaram ser administrados: cortes em
programas sociais, aumento de impostos, restrição ao crédito. A inflação subiu,
o real desvalorizou, o desemprego cresceu. A isso se somaram as denúncias de
corrupção da Lava Jato e o ódio gerado na recém encerrada campanha
presidencial. Resultado: o clima piorou muito para a presidente Dilma Rousseff. As pessoas têm a
tendência de responsabilizar o ocupante da cadeira presidencial pelo que ocorre
de bem e de mal no Brasil.
A pesquisa
Datafolha divulgada no início de fevereiro revelou que apenas 23% avaliaram
positivamente o governo Dilma, 44% acham esse início de gestão ruim ou
péssimo. Boatos dizem que os números
pioraram para Dilma em março.
Nesse cenário,
a manifestação marcada para este domingo, 15 em várias cidades do país - em
Salvador será no Largo do Farol da Barra
às 16 horas - por segmentos que não têm
experiência de militância política partidária, será um termômetro para Dilma.
Se atrair
muita gente, pode gerar onda anti-governo na sequência e criar mais
dificuldades para o Palácio do Planalto. Mesmo que fracasse em quantidade de
pessoas, as manifestações tendem a ser ampliadas pelas redes sociais, nova trincheira da luta
política.
É preciso
lembrar que, mesmo o ato organizado, sexta, pelas centrais sindicais ligadas
aos partidos da base governista - em especial o PT e PCdoB - foi, em parte, de
protesto contra as medidas de Dilma que cortaram benefícios sociais. O
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), um dos participantes do ato
pró-governo, também tem criticado muito Dilma pelo atraso da reforma agrária.
Amplitude
Doutor em
Ciência Política, profundo conhecedor e estudioso da política, Paulo Fábio
Dantas acredita que a amplitude das manifestações desse domingo e o
prosseguimento de atos de rua dependerão das bandeiras que os participantes vão
defender. "Se os protestos se concentrarem no tema da corrupção, mesmo
associando ao impeachment, ao fora Dilma, a tendência é que as manifestações
sejam absorvidas sem maiores consequências", disse, explicando que o país
está maduro "para lidar com esse descontentamento justo com a corrupção e,
ao mesmo tempo as pessoas sabem que as instituições têm funcionado a contento
na investigação dos casos".
Por outro
lado, observa Dantas, se a agenda dos manifestantes se ampliar, como ocorreu em
2013, "para reclamar contra a qualidade dos serviços públicos, a inflação,
a ameaça a conquistas trabalhistas e temas específicos, aí sim, acho que o
governo vai estar em muitos maus lençóis".
Ele avalia que
o "Fora Dilma" é uma bandeira muito imediatista, mas difícil de ser
alcançada. Acha que o grande problema do
governo é o seu isolamento político defendendo a ajuda à gestão federal para o
enfrentamento da crise econômica. "Pior será atravessar esses quatro anos
do governo Dilma caso ela não consiga êxito com suas medidas econômicas",
disse. O cientista político concluiu recentemente uma temporada na Argentina,
país que tem problemas muito piores que o Brasil. "A diferença é que lá
existe uma eleição presidencial marcada para esse ano, o que dá uma certa
esperança nas pessoas para aguentar mais um pouco. No Brasil, a eleição de
presidente é em 2018".
Frisando
sempre que o PSOL está imune à Operação Lava Jato, o presidente do partido na Bahia, Marcos
Mendes, disse que não apoia a manifestação deste domingo devido ao seu viés de
impeachment. "Isso é uma tentativa de golpe articulada por partidos de direita e grupos
fundamentalistas que não aceitam o resultado das urnas", sustentou. Para ele, as pessoas deveriam ir às ruas para
cobrar temas consequentes: reforma política.
**Fonte: A Tarde
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