| Foto: Ilustrativa |
Na pequena
Nordestina, de apenas 12,4 mil habitantes, encravada no meio do sertão baiano,
a mineradora belga Lipari se prepara para iniciar a exploração da primeira mina
de diamantes extraídos diretamente da rocha (fonte primária do mineral) na
América Latina.
A companhia,
comandada pelo geólogo canadense Kenneth Johnson, já aplicou R$ 60 milhões na
unidade e planeja aplicar mais R$ 30 milhões ao longo deste ano para acelerar
as pesquisas e iniciar a comercialização do minério já no fim de 2014. O
dinheiro que financiou toda essa operação saiu dos controladores da Lipari – a
companhia Aftergut & Zonen, da Bélgica, e o fundo Favourite Company, de
Hong Kong.
Ainda em fase
de pesquisas, o geólogo que coordena o trabalho da Lipari no sertão baiano,
Christian Schobbenhaus, afirmou ao Estado que estima em pouco mais de 2 milhões
de quilates de diamante a capacidade total das minas em Nordestina, que fazem
parte do projeto Braúna. Um quilate de diamante de rocha kimberlítica é negociado,
hoje, a cerca de US$ 310.
O kimberlito é
uma rocha rara, que forma o manto da terra. Chega à superfície após uma erupção
vulcânica. Foi nessas explosões, ocorridas há bilhões de anos, que o kimberlito
trouxe para próximo da superfície terrestre os diamantes.
Desde então,
por meio da erosão natural do solo, os diamantes podem se soltar e chegar até
aluviões de rios, onde são encontrados na maior parte das vezes.
Produção atual
- O Brasil, até agora, tem "produzido" diamantes dessa forma, tendo
produção anual de 47 mil quilates, estimada pelo Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), cerca de 0,04% de todo o diamante explorado no mundo.
Agora, apenas a produção de Nordestina deve multiplicar por cinco a oferta
nacional de diamantes, aumentando também o valor do minério, uma vez que não é
oriundo de aluviões, mas de fonte primária – da própria rocha.
Há apenas 20
minas de kimberlito em atividade no mundo. O grupo de países do qual o Brasil
vai fazer parte é pequeno: as minas estão no Canadá, em países no sudoeste
africano e na Rússia. O bloco de rocha kimberlítica no qual está a pequena
Nordestina pertence ao cráton (bloco de rocha com mais de 1 bilhão de anos) do
São Francisco, que ficava junto ao cráton do Congo, na África, antes da separação
dos blocos em continentes.
Profundidade -
Em Nordestina, o diamante está a cerca de 3 quilômetros da superfície, e a
pesquisa total da área só deve ser concluída no fim do ano. Dada a complexidade
da operação – as máquinas que tiram os diamantes das rochas são importadas da
África do Sul e operadas por técnicos qualificados em mineração de diamantes –,
a comercialização do minério de Nordestina só deve começar no último trimestre
do ano que vem, ganhando força a partir de 2015. A Lipari estima em sete anos a
vida útil da mina na cidade.
Praticamente
todo o diamante de Nordestina será exportado para Dubai, Bélgica, Israel e
Canadá, onde o comércio do minério é concentrado e tradicional. Assim, a
companhia aposta que, até 2015, quando a produção estará a todo vapor, a
recuperação da economia mundial terá ficado mais consistente e, com isso, os
preços do diamante devem aumentar, puxados por uma demanda mais firme.
"Para um
geólogo, esta é uma oportunidade inacreditável. Estamos trabalhando na primeira
mina de diamante oriundo diretamente do kimberlito de toda a história da
América Latina", disse Schobbenhaus, que mora em Nordestina desde 2010,
quando as pesquisas se intensificaram.
O governo da
Bahia deve licenciar a produção ainda neste ano, e o pedido de lavra feito pela
Lipari ao DNPM também deve ser concedido. Segundo o diretor de fiscalização do
departamento, Walter Lins Arcoverde, a mina da Lipari é "a confirmação de que
o Brasil tem, de fato, a primeira mina de diamante oriundo de kimberlito na
América Latina, e o segundo em todo o continente, atrás apenas do Canadá, que é
um dos maiores produtores do mundo". Até este ano, apenas Brasil, Guiana e
Venezuela produziam diamantes na região, mas todos os minérios eram de fontes
secundárias, isto é, de aluviões de rios.
*Informações:
Estadão
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