Foto: Ilustrativa |
Sua empregada doméstica tem carteira assinada?
“Não, ela é da família” ou “não precisa, ela já está com a gente há muito
tempo” são justificativas comuns dos patrões brasileiros. Sete em cada dez
trabalhadores domésticos não têm carteira assinada no Brasil. No Nordeste, a
situação é ainda pior: 83,4% permanecem na informalidade. A região possui a
menor média salarial para os domésticos: R$ 594 para os que têm carteira
assinada e R$ 285 para os que não estão formalizados.
O Brasil tem 6,65 milhões de domésticos, mas 4,61
milhões não terão acesso à Emenda Constitucional 72 (conhecida como PEC das
Domésticas), aprovada em março. A emenda garante 16 novos direitos para os
trabalhadores residenciais. Os outros empregados – os celetistas – já gozam das
mesmas leis há 25 anos.
“Na Constituição de 88, os trabalhadores
domésticos ficaram à margem de uma série de direitos como se fosse uma
subcategoria. Depois de décadas, uma emenda constitucional busca trazer a
igualdade entre os trabalhadores. Isso mostra uma defasagem no tratamento dos
domésticos e uma presença de traços da escravidão”, diz Frederico Fernandes,
coordenador do Observatório do Trabalho da Bahia, órgão da Secretaria do
Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).
Em parceria com o Dieese, o Observatório realizou
a 1ª Oficina do projeto Estratégias de Redução da Informalidade no Emprego
Doméstico na semana passada. A Bahia foi escolhida pelo Dieese para dar início
ao projeto pela elevada incidência de informalidade e, já nos primeiros dias,
as raízes do problema foram identificadas. “É muito comum no Nordeste e,
especialmente na Bahia, o patrão que traz uma menina do interior e diz que vai
criá-la como uma filha, mas que, na verdade, a submete a um ritmo de trabalho intenso.
A trajetória dela é uma sina, de alguém que vai reproduzir a miséria e
permanecer na informalidade”, conta Fernandes, lembrando que o caso ainda se enquadra
como trabalho infantil.
Entre os novos direitos, que valem desde abril,
está a proibição do trabalho doméstico insalubre a menores de 18 anos e
qualquer tipo de atividade a menores de 16 anos.
No país, cerca de 260 mil crianças e adolescentes
entre 10 e 17 anos trabalham em residências, de acordo com o relatório Brasil
Livre de Trabalho Infantil, divulgado na semana passada pela ONG Repórter
Brasil. Em torno de 95% dos menores eram do sexo feminino. Ainda segundo o
documento, apenas nove das 7,2 mil ações de fiscalização do Ministério do
Trabalho e Emprego feitas em 2012 foram referentes a trabalho infantil
doméstico.
Na oficina realizada pela Setre com o Dieese,
representantes de sindicatos de domésticos de outros estados contaram como o
trabalho infantil doméstico é realizado. “As agências de emprego contribuem
muito. Elas levam as meninas para Curitiba”, contou Lindacir de Oliveira, presidente
do sindicato do Paraná.
Para Ademir Figueiredo, coordenador de Estudos e
Desenvolvimento do Dieese, a chave para o cumprimento dos direitos aprovados é
a fiscalização. “O Ministério Público do Trabalho vai ter que arranjar uma
forma de fiscalizar”, afirma.
*Informações: Ibahia
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